CLAUDEMIR GOMES
Virar a chave!
A frase acima, bastante usual no futebol brasileiro, serve para simplificar a comunicação entre jogadores, dirigentes, técnicos e dos cronistas esportivos com o torcedor. Traduz as constantes mudanças impostas aos clubes que chegam a disputar até cinco competições simultaneamente. Coisa do insano calendário do futebol do país pentacampeão do mundo.
É como se você estivesse manuseando um aparelho doméstico: para este jogo liga na tomada de 110V. Agora, para esta outra competição, "vira a chave" para a tomada de 220V. O Sport estava jogando numa voltagem de 110 contra o Avai. Entretanto, durante a disputa dois fusíveis se queimaram e o Leão da Ilha do Retiro perdeu o jogo. Virou a chave e enfrentou o Atlético Mineiro plugado a voltagem de 220V. Partidaço! Os rubro-negros venceram e convenceram. Foram a campo para enfrentar o Fortaleza com a mesma disposição de jogar numa corrente de 220V, mas não havia energia para tal. Amargaram uma goleada memorável: 4x1.
Nesta sexta-feira os leoninos voltam a "virar a chave". Enfrentam o Goiás, em Goiania, numa disputa direta por uma vaga no G4 do Brasileiro da Série B. A partir de agora, como o Sport só terá uma competição para seguir disputando, o técnico Mariano Soso não terá mais que olhar para os seus jogadores como robôs. A carga de trabalho será compatível com a condição humana dos atletas.
Chegamos ao último dia do quinto mês do ano. Neste espaço de tempo, o Fortaleza já marcou presença em cinco competições: Campeonato Cearense, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana e Campeonato Brasileiro. O posicionamento geográfico do Estado do Ceará, no Nordeste Brasileiro leva o clube a encarar uma sequência absurda de deslocamentos. O Fortaleza, ao final do quinto mês de uma temporada que será concluída em dezembro, está com uma rodagem assustadora. "Coisa do futebol brasileiro", diria o saudoso Tião (Edvaldo Moraes).
A cada "virada de chave" os departamentos médicos dos clubes ficam em alerta. A iminência de novas contusões é uma consequência natural da sobrecarga de esforço. Os jogos são intercalados com uma agenda de viagens; pouco tempo para descanso, recuperação e treinos. Tal composição não vai levar o time a praticar um futebol de excelência nunca.
As constantes "viradas de chave" só alimentam as loterias da Caixa e as Bets.
Os detalhes explicam o definhamento do futebol brasileiro perante o futebol europeu, que sabe o tempo certo para as "viradas de chave".
CLAUDEMIR GOMES
"Futebol é uma caixinha de surpresa".
O aforismo acima é tão infame quanto antigo. Mas, vez por outra, críticos e analistas do futebol ainda utilizam ele para dar seus gritos de alerta. Afinal, falar no pressuposto virou moda. Se acertar na linha de raciocínio, o mercado ganha mais um "professor" da matéria mais imprevisível do planeta.
Com cem por cento de aproveitamento - quatro vitórias em quatro jogos - o Sport apresenta um início de campanha irretocável na Série B. Líder isolado da competição, o rubro-negro pernambucano tem como adversário, nesta quarta-feira, em prosseguimento a 5ª rodada, o Ituano, lanterna do campeonato que exibe uma campanha inversamente proporcional a do líder. Um confronto para o Leão da Ilha do Retiro adicionar mais uma vitória na sua contabilidade.
"Pode acontecer o que aconteceu com o Santos, que era favorito e perdeu para o Amazonas".
A advertência feita pelo taxista Val vem carregada de veneno. O cara é um tricolor roxo (torcedor do Santa Cruz), e seu divertimento predileto é secar o time do Sport. Irônico, Val ainda cuspiu a velha frase: "Futebol é uma caixinha de surpresa".
O pelotão de secadores, que todos os dias bate o ponto no café da manhã da padaria Diplomata, reforçou a azaração: "O Sport gosta de ressuscitar defunto".
Sem me afastar do pragmatismo, digo apenas que, caso não perca o foco, o Sport tem pela frente a oportunidade de contabilizar mais duas vitórias: contra o Ituano, pela fragilidade do adversário, que mesmo atuando na condição de mandante não assusta, e no próximo sábado, diante do Avaí, na Arena Pernambuco, num jogo que está programado para às 15h30. Neste horário, com o calor que está fazendo no Recife, acredito que a proposta da CBF é cozinhar os torcedores e fazer torresmo dos jogadores.
Embora respeitando a "caixinha de surpresas", sempre defendo o pensamento de que futebol é momento. Ao observar o nível técnico que a competição vem apresentando neste início de disputa, digo sem medo de errar que, o Sport tem um dos melhores conjuntos, razão pela qual está com cem por cento de aproveitamento.
A experiência nos assegura que, quando um time está focado supera os adversários de qualidade técnica inferior com relativa facilidade, e encara de frente os mais qualificados. Manter o foco é não embarcar na euforia da torcida.
Aos poucos o argentino Mariano Soso vai conquistando a torcida do Sport. No futebol das "caixinhas de surpresas" tudo se acomoda com vitórias. Vencer, e somar pontos sempre, é a receita do sucesso numa competição de tiro longo com pontos corridos.
Na próxima semana o Sport terá pela frente dois adversários de Série A: o Atlético Mineiro, em jogo válido pela Copa do Brasil, e o Fortaleza, pelas semifinais da Copa do Nordeste. O torcedor leonino terá que ter discernimento para não misturar alhos com bugalhos. Naturalmente que, vencer "gigantes" da Primeira Divisão Nacional respalda e credita qualquer trabalho, contudo, a meta primordial do clube rubro-negro na temporada é o acesso à Série A.
Sendo assim, é fundamental pôr na conta, vitórias contra Ituano e Avaí.
Atenção: "Todo o cuidado é pouco com a caixinha de surpresa".