CLAUDEMIR GOMES
No Brasil das polêmicas, a oferta do dia foi a Copa América. A Conmebol sugeriu que o torneio continental de seleções fosse realizado no Brasil. Após consulta ao Governo Federal, a CBF se propôs a ser anfitriã da disputa que fora rejeitada por outros países.
O tempo fechou! Parece até que colocaram pimenta no palanque do pastoril. Isso mesmo. O Brasil da pandemia foi dividido no cordão encarnado, e no cordão azul. Neste pastoril, o véio das pastoras não manda em nada. E a Diana, que era para carregar no seu vestido as duas cores, toma partido a toda hora. Resultado: o pastoril vira uma zona com um show de hipocrisia.
Certa vez, quando menino, numa das visitas a casa do meu avô, Pedro Amaro, em Limoeiro, um dos assuntos levantados numa prosa foi uma frase do Cel. Chico Heráclito: "O eleitor da Capital é a favor do contra".
Vamos trazer para os dias atuais: Os políticos brasileiros são a favor do contra.
Certo que nem dentadura de bode!
Ser contra, ou a favor, é natural. Acho até que, para tudo tem que haver um contraponto. O que não pode faltar é coerência. O que não pode haver é esta hipocrisia doentia. Ser a favor do contra é irracional.
Vejamos: Em todos os Estados brasileiros foram disputados campeonatos de futebol; copas regionais; Copa do Brasil e começou, no final de semana, o Brasileiro das Séries A, B, C e D. Aconteceram competições de futebol feminino; Brasileiros Sub20 e Sub17... Mas a Copa América não pode.
O País está aberto para receber jogos da Copa Sul-Americana, Libertadores da América e das Eliminatórias do Mundial 2022, mas não pode da Copa América.
Hipocrisia pura!
Explicação? Fidelidade ao lema: A favor do contra.
Hoje eu fui na padaria e pedi um bolo de bacia. A moça me serviu, mas disse que a iguaria se chamava murphy. Pedi um pão francês e ela disse que era italiano. Perguntei se tinha pão criolo, ela fez um ar de riso e alertou: cuidado com o racismo.
Fiquei sem saber se estou no País do Contra ou na Era da Imbecilidade.
CLAUDEMIR GOMES
As disputas do Campeonato Brasileiro Série B começam nesta sexta-feira, quando o Náutico fará sua estréia enfrentando o CSA, no estádio dos Aflitos. Escudados no título pernambucano, conquistado domingo passado, os alvirrubros irão a campo com esperanças renovadas de que, este ano conseguirão o acesso à Série A. Afinal, o início da temporada 2021 foi auspicioso para o clube dos Aflitos, que além do título estadual, conquistou o direito de participação nas Copas do Brasil e do Nordeste em 2022.
As presenças de clubes de grande tradição no futebol brasileiro, detentores de títulos conquistados na Primeira Divisão - Cruzeiro(1966, 2003, 2013 e 2014); Vasco(1974,1989, 1997 e 2000); Botafogo(1968 e 1995);Coritiba(1985) e Guarani(1978) - dão mais visibilidade à competição e elevam o nível de dificuldade da disputa. Mas, vale lembrar que, tradição, por si só, não chega a ser uma garantia de sucesso num campeonato que tem segredos e armadilhas peculiares, fato que leva alguns "favoritos" a se perderem em seus caminhos.
Alguns clubes têm em seus currículos títulos conquistados na Série B - Coritiba(2007 e 2010); Goiás(1999 e 2012); Guarani(1981); Vasco(2009); Botafogo(2015); Sampaio Corrêa(1972) e Londrina(1980) - prova inconteste da expertise na competição, que deve ser traduzida num aumento de dificuldades.
A exemplo do que aconteceu em edições anteriores, com diferentes cenários, analistas, técnicos, jogadores, dirigentes..., antes de a bola rolar, fazem inúmeras projeções, criam possibilidades e analisam o que ainda está por vir, como se no futebol as coisas fossem previsíveis como uma equação aritmética.
A única coisa que temos certeza é que: para assegurar o seu acesso, um time precisa contabilizar 19 vitórias e 8 empates, que lhes dará um total de 65 pontos, margem que assegura o êxito de sua campanha. Quem busca alcançar tal marca precisa colocar os jogos como mandante na sua conta. Eis a necessidade imperiosa do Náutico vencer o CSA, hoje a noite.
O mestre, Hélio dos Anjos, conhece todos os atalhos da Série B. Sabe como asfaltar a estrada, pois conhece os caminhos de pedregulhos e onde tem areia movediça. Ano passado livrou o Náutico do afogamento. Agora, com o time jogando ao seu jeito, é possível perseguir o sonho da Série A.
CLAUDEMIR GOMES
Náutico Campeão!
Palmas para o VAR, que lá de longe, do Rio de Janeiro, conseguiu detectar uma infração do goleiro do Sport que havia passado despercebida pelo trio de arbitragem. O erro foi corrigido. Um lance capital que, em fração de segundo levou os alvirrubros a fazerem uma viagem do inferno ao céu.
Antes de a bola rolar, o técnico do Náutico, Hélio dos Anjos, grande personagem da decisão do Pernambucano 2021, envolvendo os arquirrivais Sport e Náutico, ao ser indagado sobre o momento, foi cirúrgico, verdadeiro e visionário.
"Decisão é uma construção. Vimos construindo isso desde fevereiro, chegamos à decisão e vencerá o melhor time", comentou observando toda a atmosfera em torno do Estádio dos Aflitos, onde os prédios foram transformados em camarotes de luxo.
E venceu o melhor time: o que ao longo da competição descreveu a melhor campanha; apresentou o melhor futebol e foi soberbo nas duas partidas da final, quando apresentou um melhor futebol. Como prêmio, além do merecido título, teve no atacante Kieza o artilheiro da competição.
Em tempo de pandemia, a decisão aconteceu sem público no estádio. A tecnologia foi toda colocada a serviço do Clássico dos Clássicos: torcedores de Náutico e Sport assistiram o jogo pela televisão, que transmitiu ao vivo; a decisão do lance capital que garantiu o título veio do VAR e as gozações foram via redes sociais.
É a nova ordem.
Algumas coisas no Clássico dos Clássicos parecem imutáveis. As emoções, por exemplo. Nesta decisão pandêmica, o Náutico jogou melhor, mandou duas bolas na trave, aproveitou um erro primário cometido pelo adversário para abrir o placar, mas deu um vacilo e sofreu o gol de empate.
Tem que ser no sofrimento! Disseram os torcedores a beira de um ataque de nervos. E vieram os pênaltis.
Estava tudo igual, até que, na terceira cobrança, Giovanny, displicentemente, "atrasou" a bola para o goleiro Mailson que segurou sem dificuldade. Mas o defensor leonino havia dado um passo à frente, que não foi visto pelo árbitro, Rodolfo Toski. Naquele momento o torcedor alvirrubro sentiu seu corpo arder no mármore do inferno.
O script do campeonato não poderia ter um final tão infernal para o Náutico, o melhor time da competição. As cobranças voltaram. Giovanny se redimiu do erro anterior. Pelo lado do Sport, Marquinhos mandou a bola por cima do gol. Na sequência, todos os jogadores do Náutico converteram seus chutes em gols. Coube a Kieza a última cobrança, a que levou o time dos Aflitos às alturas.
E a torcida alvirrubra comemora um título que quebrou tabus e rasgou escritas.
CLAUDEMIR GOMES
A travessia pandêmica nos traz notícias tristes com uma frequência assustadora. Ontem, ao dar uma surfada pelo whatsapp, tomei conhecimento da morte prematura do filho de Rivaldo Oliveira (o gordo da Urb). Júnior havia completado 29 anos no dia 3 de maio. Minutos antes de ligar o computador refletia sobre o artigo publicado pelo mestre, Arthur Carvalho, cujo título era: O que é a vida?
Arthur encerra sua crônica com uma citação de Ary Barroso: "A vida é essa, é um segundo que se esvai depressa".
O tempo passa, somamos conhecimentos, as experiências nos ensinam a encarar tudo com naturalidade, mas, nossos lombos, por mais cascudos que estejam, ainda são sensíveis, e a dor de algumas pancadas são inevitáveis.
As situações, os fatos, provocam perguntas que ficam sem respostas. Até para mensurar este "segundo" de que o Ary Barroso se referiu ao definir a vida, é complicado. O tempo de cada um parece ser um desses segredos que só serão revelados na vida eterna.
Bom! A condição de "eterna" nos leva a crer que, nossa segunda vida não tem prazo de validade, ou seja, não se esvai num segundo.
Desde que nos conhecemos, há algumas décadas, no dia 3 de maio Rivaldo me liga para me parabenizar. E sempre lembrava: "Hoje também é o aniversário do meu filho Junior". Este ano, o Gordo me parecia mais alegre: postou um vídeo da casa de campo que construiu e revelou vários planos que tinha para por em prática quando a pandemia passar.
O que é a vida?
As pessoas se perdem nas respostas. Filosofam, tentam consertar, buscam outras explicações convincentes, mas ninguém consegue uma resposta plausível. Até parece que estamos falando da teoria da relatividade.
E neste sopro que é a vida ainda existe espaço para o bem e o mal. Mas tudo passa na velocidade de um segundo que as vezes parece durar uma eternidade.
No momento, o silêncio está sendo ensurdecedor para o amigo Rivaldo, mas logo o mesmo silêncio vai acalmar o seu espírito.
É a vida!
CLAUDEMIR GOMES
O ataque homofóbico feito por um conselheiro do Sport a Gil do Vigor, personagem ilustre da edição 2021 do Big Brother Brasil, que foi transformado numa celebridade da Nova Roma, foi a pimenta malagueta que faltava para o molho da decisão do Pernambucano 21, até então, mais insossa que cardápio de hipertenso.
O inábil rubro-negro acabou elegendo um personagem que estava totalmente fora do contexto, e atraiu para si os holofotes que poderiam estar direcionados para o assustador ataque do Náutico; a segura defesa do Sport, ou para o técnico, Hélio dos Anjos, que por sua história, e o vínculo criado com o futebol pernambucano, merece uma atenção especial nesta decisão de título estadual.
E os leoninos que estão acostumados a tirar o maior "sarro" com a torcida do Náutico, a quem chamam de "Barbie", viram o "jogo da gréia" ser empatado porque o porta bandeira do Leão é um gay.
E as gozações ganharam as redes sociais de forma avassaladora. Tudo o que foi postado sobre o assunto viralizou. Até a nota oficial publicada pelo Sport assinada pelos presidentes do Executivo e do Deliberativo.
E passou a ser oficial: No momento Gil do Vigor é o grande representante do Sport Club do Recife.
No final da tarde passei no Mercado da Encruzilhada, onde havia uma reunião de cinco tricolores. Quando me viram, foram logo sugerindo um novo nome para o clássico entre alvirrubros e rubro-negros: "Clássico dos Meninos Alegres; Barbie x Gil do Vigor".
Fico a imaginar se "um gol contra" como este fosse marcado na época em que José Neves Filho era presidente do Santa Cruz. A gréia ia ser absurda.
Mas vamos ver a coisa pelo lado positivo: a inaceitável e descabida agressão homofóbica feita contra Gil do Vigor, um leão que enalteceu o nome do Sport nacional e internacionalmente, como ressalta a nota divulgada pelo clube, serviu para agitar a final inédita entre os dois clubes, sem público no estádio.
Gil, que virou torcedor símbolo do Sport, se mostrou abalado com o ataque homofóbico, mas tudo isso passará rápido se o seu clube tiver vigor suficiente para ser campeão.
Tudo seria muito cômico se não fosse tão trágico.