ROBERTO VIEIRA
1973.
Sport Club do Recife falido.
Rio de Janeiro, sábado à noite.
Jogo contra Fluminense, campeão carioca.
O rubro-negro cheio de crianças.
Imberbes.
O goleiro Pimenta é dente de leite.
Meinha com 19 primaveras.
A folha salarial?
Era inferior ao salário de Jairzinho.
Grilo fica grilado.
O técnico Cilinho pega as peças de xadrez.
Coloca no tabuleiro = vamos jogar assim.
Adilson adora Cilinho. Ganhou 15 quilos após a chegada do treinador.
Cilinho é um pai pros garotos.
Veterano mesmo só o gigante Drailton.
Bom de bola, cria do América/PE.
Maracanã, Ipanema, Leblon.
As pernas da meninada tremem.
Mas o pequeno Odilon quando olha pro banco de reservas.
Vê o rosto redondo e moreno de Cilinho.
Rosto que iluminou Odilon, Muller, Silas...
O Fluminense vence por 1x0.
Jogo duro.
A criançada sai de campo de chupeta em pé.
Tempo passa.
Paciência esgotada.
Sport dez anos sem título?
Um presidente consegue quitar as dívidas.
Mas... demitem Cilinho.
Mandam embora a gurizada.
Trazem Dario, Duque e a seleção do Nordeste.
Cilinho se separa do futuro.
Arruma as malas.
Sai pela vida criando novos Odilons.
Cilinho que via na criança o futuro craque.
Com a simplicidade dos profetas imortais do velho futebol.
CLAUDEMIR GOMES
Chegou o dia!
Nesta sexta-feira acontece a festa da 9ª edição do Troféu Destaque da Crônica Esportiva, que este ano me presta uma homenagem ao nomear o prêmio com o meu nome: TROFÉU JORNALISTA CLAUDEMIR GOMES.
Provoquei um encontro com o radialista, Washington Ramos, idealizador e executor deste projeto que preenche a lacuna deixada pela Associação dos Cronistas Desportivos de Pernambuco (ACDP), quando parou de promover sua tradicional confraternização de final de ano. Precisava externar, pessoalmente, minha gratidão por tamanha generosidade.
Conheci Washington há alguns anos, numa viagem que fizemos a Caruaru, atendendo ao chamado do presidente da ACDP, a época, Iranildo Silva. Fomos para o lançamento de um projeto da CAIXA, que abriu uma linha de crédito para os sócios da entidade. Washington teve uma participação direta nesta conquista da classe, funcionou como um perfeito elo de ligação.
O Troféu Destaque da Crônica Esportiva é produto de um sonho. Quando adolescente, Washington Ramos acompanhava as transmissões das festas promovidas pelo saudoso jornalista, Júlio José, e passou a alimentar o desejo de um dia ser o promotor de eventos similares aos que Júlio promovia.
Hoje ele se surpreende com a dimensão alcançada pelo Troféu Destaque da Crônica Esportiva que ultrapassou fronteiras, sendo repercutido em outros Estados, fato que valoriza e ressalta o valor dos profissionais que militam na crônica esportiva pernambucana.
Com muita sensibilidade, Washington optou por não dar um nome fixo ao troféu. A festa é sempre a mesma, mas o nome do troféu é itinerante, a cada ano homenageia um cronista esportivo.
Sinto-me honrado com tamanha deferência. O carinho e o respeito dos amigos é a grande recompensa do cronista esportivo, que ao longo dos anos trava uma grande luta para poder domar o ego, e se manter dentro da humildade que rege este sacerdócio.
Não existe a profissão de cronista esportivo. O jornalista e o radialista é que escolhe a vertente que quer seguir. Há 44 anos percorro este caminho. Um aprendizado diário. Se fosse para passar a régua e fechar a conta, neste exato momento, diria que o lucro foi bom: um monte de amigos sempre gentis.
Confesso que começaria tudo outra vez.
Obrigado a todos!
HOMENAGEADOS:
Beto Lago; Evaldo Costa; Ednaldo Santos; Goretti Queiroz; Professor Clemente e Natan Oliveira.
REVELAÇÕES:
Max Davi (narrador); Fagner Andrade (repórter); Wagner Souto (repórter); Alberto Alves (repórter) e Artur Lucena (repórter).
DESTAQUES:
Rodrigo Raposo (narrador); Marcos André (comentarista); Tiago Morais (repórter); Luiz Muniz (âncora); Claudemir Silva (operador externa); Emanuell Viana (cinegrafista); Maciel Júnior (programa de rádio); Rafael Araújo (TV Web); Léo Lima (blog); Geraldo Rodrigues (colunista jornal); Péu Ricardo (fotógrafo) e Brenda Alcântara (fotógrafa).
CLAUDEMIR GOMES
As Repúblicas Independentes do Arruda vivem dias de turbulência!
Eis a razão pela qual a próxima reunião do Conselho Deliberativo do Santa Cruz, que deve acontecer na primeira semana do mês de dezembro, está sendo aguardada com muita expectativa. Na pauta estarão as sugestões para mudanças no estatuto do clube que passa por uma das crises políticas mais delicadas de sua centenária história.
A reboque vem a crise financeira que também é assustadora.
O Santa Cruz é um clube de futebol. Isto é fato. E está gravado no seu próprio nome: SANTA CRUZ FUTEBOL CLUBE. Numa rápida olhada nos números, e não precisa ser nenhum matemático ou economista para chegar a tal conclusão, observamos que o atual cenário não foi desenhado de um dia para o outro. A queda do Tricolor do Arruda se processo há mais de uma década.
Nos últimos 15 anos (2006 a 2020) o Santa Cruz participou de apenas duas edições da Série A do Campeonato Brasileiro. No histórico estão 3 anos na Série D; 6 temporadas na Série C e 4 edições na Série B.
Num mergulho na história, observamos que, no período de 1969 a 1979, o Tricolor do Arruda conquistou 8 títulos em 11 Campeonatos Pernambucanos disputados. Por outro lado, nas décadas de 80 e 90 contabilizou apenas 6 títulos estaduais. No novo século, ou seja, de 2000 a 2019, foram 6 títulos estaduais; um da Copa do Nordeste e um nacional (Brasileiro Série C em 2013).
A nacionalização do futebol brasileiro transformou as competições estaduais em subprodutos. O potencial dos clubes de atrair investidores é mensurado através de suas participações no Campeonato Brasileiro e em competições internacionais. Na nova ordem, títulos estaduais servem apenas para massagear o ego dos torcedores, e enriquecer a sala de troféus.
Semana passada, numa das resenhas da Rádio Clube, ouvi uma declaração de um dos atuais gestores do Clube do Arruda, na qual ele se posicionava como um verdadeiro chefe de milícia. Ressaltou, com bastante clareza, que seus comandados eram autênticos Pit Bulls, se ele mandasse matar, eles matariam. Confesso que fiquei estarrecido. E indaguei aos meus botões:
Será que este cidadão pensa que administra o Coliseu da Roma Antiga?
De uma coisa temos certeza: não são os Estatutos que abem espaço para pessoas com tal pensamento fazerem parte da administração do clube. A agremiação não pode ser tratada como um objeto pessoal.
Pelos poucos dados expostos acima, observa-se que o Santa Cruz há 30 anos desce uma ladeira. O caos em que se encontra não foi construído em 30 dias. Portanto, a redenção e reconstrução do clube exige uma mudança de pensamento e atitude.
Ninguém pode mais administrar um clube só para chamá-lo de MEU.
CLAUDEMIR GOMES
Depois do espetáculo popular provocado pelo Flamengo, quando boa parte da população brasileira vestiu a camisa rubro-negra do clube carioca, podemos pegar uma carona com o Jorge Ben Jor e sair cantarolando: "Moro num país tropical, abençoado por Deus, sou Flamengo...".
Evidente que não podemos colocar a torcida do Sport neste cordão da alegria. Afinal, os leoninos nunca torceram tanto por um clube argentino como fizeram no sábado com o River Plate.
Tão logo acabou o jogo, com a vitória do Flamengo (2x1), o rubro-negro, Bernardino Magalhães, me envia uma mensagem pelo zap ressaltando a injustiça do placar para o time argentino, que apresentou um melhor futebol durante a maior parte do jogo. Uma verdade incontestável.
A explicação está no imponderável. Se entre nós ainda estivesse, o mestre Nelson Rodrigues, por certo diria que o River sofrera um "ataque" do Sobrenatural de Almeida".
Acredito que os deuses do futebol pouco deram importância ao que estava acontecendo dentro das quatro linhas, preferiram alimentar a alegria e turbinar o carnaval vermelho e preto que explodiu do Oiapoque ao Chuí, no País abençoado por Deus.
Enganaram-se aqueles que pensaram que o Brasil não era mais o país do futebol. O Flamengo nos mostrou o contrário. Mas nada foi por acaso. O projeto em curso, que levou o clube carioca a montar uma grande equipe e praticar um futebol de excelência, vem sendo desenvolvido há seis anos.
A explosão de alegria que vimos ontem, em todo o país, e segue neste domingo no Rio de Janeiro, com uma louvação popular aos novos campeões continentais, é a resultante de uma campanha irretocável do time comandado pelo português Jorge de Jesus.
O Flamengo da decisão não foi tão brilhante e envolvente quanto o de jornadas anteriores. Parou na perfeita marcação dos argentinos, mas existe uma máxima no futebol que diz: "decisão se ganha nos detalhes".
O detalhe é que o Flamengo tem um atacante cirúrgico,Gabriel Barbosa, que não por acaso, foi apelidado de "Gabigol", e que se aproveitou da única falha produzida, durante todo o jogo, por seu implacável marcador, para se consagrar como o herói da vitória na histórica conquista aguardada há 38 anos pela nação rubro-negra.
Independente de cores e camisas, acho fantástico o frenesi provocado pelo futebol nos torcedores. Quando a alegria transcende os estádios, ganham os bares, as ruas.
Ontem, acompanhando, pela televisão, a festa dos flamenguistas, foi inevitável no lembrar do mestre Luiz Bandeira:
"Que bonito é
Esquecer a roubalheira
Pendurar uma bandeira
E ver o Brasil jogar..."
E o Brasil ontem jogou com a camisa do Mengão.
CLAUDEMIR GOMES
De repente passamos a tomar conhecimento de notícias desagradáveis: o narrador da Rede Globo, Galvão Bueno, teve um mal-estar, e foi submetido a um procedimento de cateterismo; Gugu Liberato, apresentador da TV Record sofreu um acidente doméstico e seu estado de saúde é grave... Aqui, na nossa aldeia, o ex-treinador, Nereu Pinheiro, que vem travando uma luta inglória contra um adversário cruel e letal, o câncer, foi internado, no meio da semana, numa Unidade de Terapia Intensiva.
Nereu tem uma história de superação belíssima. Testemunhei muitas passagens, fato que me deu a oportunidade de lhe ver sentado a mesa de alguns banquetes, e também comendo do pão que o diabo amassou. O conheci através do amigo em comum, Amaury Veloso. Com o passar do tempo estreitamos nossa amizade que resultou numa boa troca de conhecimentos.
Na década de 80, a redação do Diário de Pernambuco, no expediente da manhã, funcionava como uma espécie de escritório do jornalista, Amaury Veloso, que montou uma rede de informações fantástica. Na época não existia Internet, mas Amaury recebia informações de clubes de cidades do Interior de Pernambuco, e de outros estados. Todos os dias Nereu ia bater o ponto no DP, um rico endereço para encontros que lhe rendeu alguns empregos.
Homem simples, de pouca escolaridade, sem habilidade no trato com as palavras, mas dono de um faro invejável, qualidade que lhe transformou num grande descobridor de talentos. A lista de jogadores revelados por Nereu é fantástica, assim como, as estórias e os causos servem de motes para boas prosas, e boas crônicas.
Supersticioso, Nereu Pinheiro era capaz de descobrir chifre em cabeça de cavalo, quando dos momentos de tensão. Desconfiava de tudo. E era esta desconfiança que alimentava bons papos, nos quais aprendia muitas coisas de bastidores.
Em 1989, quando o Sport se preparava para decidir o primeiro título da Copa do Brasil, com o Grêmio de Porto Alegre, durante um treino coletivo, na Ilha do Retiro, Nereu me chamou em separado e observou:
"Esse Zico é um jogador arretado. Tem um potencial técnico muito grande, mas é preguiçoso. Faz 20 minutos que ele não sai daquele espaço do campo. Olhe a camisa dele, sequer suou debaixo do sovaco. No jogo, vai cansar."
Foi uma grande decisão. Aquele título seria a coroação de Nereu Pinheiro como treinador, mas o apito amigo acabou favorecendo o Tricolor Gaúcho. O Sport não tomou algumas precauções que o Grêmio tomou nos bastidores. Naquela noite de sábado, quando chegamos ao hotel, Nereu me chamou, e com a cara de poucos amigos, amuado, disse baixinho:
"Não quero falar com ninguém. Vou sair com você e o corona (Cel. Marcos Soares), para tomar uma".
E assim foi feito.
Como santo de casa não faz milagres, pouco se fala do bom trabalho que ele fez no Santa Cruz levando o tricolor à Série A, em 1999. O presidente era Jonas Alvarenga, que colocou um bispo da cola de Nereu, no jogo final, com o Goiás, em Goiânia. O empate garantiria o acesso, dos dois clubes.
No dia jogo, o bispo chegou cedo no quarto de Nereu e disse: "Acabei de falar com Jesus e ele disse que íamos ser campeões. Solte o time".
Tão logo ele deixou o quarto, Nereu olhou para o seu auxiliar, Charles Muniz, e perguntou desconfiado:
"Você viu ele falar com Jesus?".
"Não!", lhe respondeu Charles.
"Eu também não. Vou jogar quietinho no meu campo porque o empate me classifica". O jogo terminou empatado e o Santa subiu para Primeira Divisão.
A maioria dos ex-jogadores quando falam de Nereu revelam um carinho pelo mestre, mas temos que ressaltar a atenção e a dedicação que Chiquinho, atual Secretário de Esportes da Cidade de Olinda, que foi revelado por Pinheiro, tem tido com aquele que ele chama de "meu pai no futebol".
A gratidão de Chiquinho, expressa em gestos e dedicação, é um golaço humanitário que ele faz para o seu inesquecível TREINADOR.